Trata-se de registro que simboliza as diversas formas pelas quais manipulamos fragmentos de arquivos-documentos provenientes dos estudos. Ou seja; rasuramos, rasurávamos e o rasurar implica o próprio processo da escritura artística. O próprio ato de pensar sobre o processo e o que dele desponta até inconscientemente e do qual nos alimentamos. Memória, arquivos, documentos, narrativas, artigos, matérias jornalísticas, ensaios, entrevistas, tudo é alimento para a performance do estudo. Como tratamos de memória e inconsciente, estamos desse modo fora de uma organização linear e mais dentro do exercício de um mapa-collage de momentos do projeto. “A AUTOFICÇÃO ACABA COM A AUTOBIOGRAFIA? Em um segundo momento, a rasura corresponde a époché dos Gregos, isto é, à suspensão de qualquer juízo sobre a coisa sendo escrita e a uma abertura para o que lhe é sussurrado. Por quem? É o terceiro momento. O escritor se vê obrigado a escutar o que lhe é soprado não pelo Espírito Santo, como acreditavam os evangelistas, nem pela musa dos românticos, mas pela tradição à qual estão ligados os autores que ele leu, os amigos que encontrou, os próximos com quem compartilha sua obra etc., todos coautores que, voluntariamente ou não, participam da escritura. O escritor se torna então scriptor a serviço, por exemplo, deste mundo infinito que Balzac chamou de Estado Civil, do qual ele se faz o secretário ou a serviço do real, a partir do qual a palavra tende a desvelar “o sentido inalienável das coisas”, ou melhor, a serviço de algo que o corrói, que ele adivinha frequentemente e que o impede de continuar no seu primeiro impulso.”. Trecho do Livro de Philippe Willemart — Os processos de criação na escritura, na arte e na psicanálise. Editora Perspectiva, 2009. p. 145. Jan/2022